sábado, 26 de março de 2011

A vida muda.



A vida muda. Falam de ciclos. Falam de seguir o percurso natural. Nascer, crescer, casar e ter filhos. E quando nada do que falam que é natural te parece sensato?

A vida muda. Falávamos sobre o vazio? do grande espaço vazio, que deixou-se preencher de todas as cores que são possíveis na asa de uma borboleta. Cores, músicas, sabores, rostos, conversas e muitos risos. Choros e apreensões.

A despedida que se aproxima. As experiências que se vivem. A vida muda. Novo ciclo? Quem filosofou sobre isso? Provérbios populares. Sábios. Ideológicos. Uma ressaca causada pela insônia, que se distrai olhando corpos se que se tocam. Lembrando de toques que se sente.

Quando tudo fica bem, ah! meu bem! A vida muda. Tira tudo do lugar e joga pro lado de lá, aquele lado que você ainda não conheceu. O novo nos assusta e nos inspira. Nos tira lágrimas e nos traz sorrisos.
Uma mudança, sútil e singela. Parte de um processo. Digno. Para distrair de tudo isso, resolvemos fazer uma coleção: “Coleção de corpos e bocas”. Retratos imaginários de todos que por aqui passarão. Vários copos, um cigarro, uma carreira de conversa sobre a hipocrisia dessa moralidade que nos toma.

Horas de conversa sobre tudo aquilo que se acredita, mas que não se faz. Falar e ouvir pra simplesmente gozar, dessa sutileza que é viver. Um toque delicado para humanizar os sentidos. Traga o sabor, inala o cenário, degusta o arrepio. Uma necessidade de que seja intenso e profundo, devagar. Para alcançar a alma e satisfazer essa vontade que não se sabe de que. Mas a vida muda.

Tanto pra se pensar, organizar e encaixotar. Mas parece acorrentada. A única coisa que parece razoável nesse momento é deixar isso para amanhã. Enquanto espera, preenche o copo. Tenta esvaziar tudo aquilo que preencheu, de novo. O vazio não é ruim. As superficialidades das relações boemias. Ah, surpreendentemente macias e saborosas. Superfície?

Desfaz as malas. Espalha tudo pelo chão e observa. A bagunça, a sujeira, o café da manhã ao meio dia. O dia a base de café. Isso não é certo. Porque você nasceu, tem que crescer, arrumar um emprego, casar e ter filhos! Você tem que seguir a roda da história, tem que ser tudo aquilo que critica. A vida muda.

Uma deliciosa bagunça espalhada pelo chão. O monte de histórias desorganizadas em fotos. Restos de uma noite, fragmentos de uma vida. Tudo espalhado pelo chão, entre as contas atrasadas, um hipopótamo lilás. Roupas, que já foram despidas. Bilhetes, que foram entregues. Manchas e cheiros. Cartas de desabafos e desculpas, na mesinha ao lado. O lugar vazio do porta- retrato. Entre os textos e livros espalhados sobre a cama, uma saudade do que não acabou. Mas, a vida muda. E organiza tudo em caixas pra colocar sobre o caminhão.

Troque sua coleção de corpos e bocas por uma coleção de roupas. Troque seus sonhos pela prestação de um carro. Troque seus amigos, simplesmente. Tire a poeira dos livros e coloque em uma estante bem bonita. Case-se e tenha filhos. Troque a paixão pela estabilidade. Porque, minha criança, a vida muda!

sábado, 12 de março de 2011

Sentar, olhar e pensar.

Sentar e olhar o campo. Sentar e olhar o mar.
Sentar e ouvir histórias. Sentar e aprender sobre agroecologia. Sentar e aprender a desenhar flores num papel. Sentar e segurar uma linha vermelha que te une a outras pessoas, criando uma teia, criando uma unidade. Ganhar um filtro de sonhos, da mesma linha vermelha.

 
Sentar e Pensar.

Sentar e sentir. Deitar. Tapar os olhos. Sentir. Chorar. Acordar.


Olhar em volta e se ver. Ver o outro. Olhar a sua volta e se indignar com a naturalização da desigualdade. Olhar em volta e ver tantas realidades.


Olhar o campo. Pensar na imensidão verde, respirar fundo e admirar a beleza, sentir uma paz.
 Olhar o campo. Pensar que a imensidão é pasto, respirar fundo e admirar a beleza dos barracos, sentir uma revolta.


Olhar o campo. Pensar em quantas famílias moram ali. Lembrar que apenas existia um dono. Olhar o campo. Pensar que temos donos. Dono do que eu como. Dono do que eu visto. Dono de mim.
 Dono da química. Dono da ciência. Dono da agua. Dono da gente.


Sentar e pensar.


Olhar o mar. Pensar no brilho da agua, sentir os grãos de areia na sua pele. Sentir uma paz. Olhar o mar. Pensar em mim, pensar nas contradições do mundo, pensar nas minhas contradições.


Olhar o mar. Pensar nas pessoas com seus belos sorrisos e carros. Olhar no relógio pra lembrar da hora de voltar ao trabalho. Pensar que isso desgasta. Pensar que isso nos tira o sorriso. Pensar que é isso que nos deixar ir olhar o mar.


Pensar que chegou a hora, sem saber que horas são nem que dia é hoje. Pensar no que eu sou e em quem eu quero ser. Pensar no campo e no mar. Pensar nas duas realidades. Pensar em qual realidade eu quero estar. Pensar em como pagar pelo pão. Pensar em como mudar o mundo.


Pensar que escolher algo significa não escolher outras coisas. Pensar que ir embora dói. Pensar que conhecer pessoas novas nos fazer crescer. Lembrar que sempre deixamos partes nós nos cantos que passamos.


Pensar no calor embaixo da lona. Pensar no frescor da agua gelada. Pensar em carregar baldes pra ter agua contaminada. Pensar em fazer mestrado. Pensar em lutar.

Pensar se vale mais pensar ou se vale mais fazer.


Se fazer vale mais que pensar, como faço pra fazer?


Sentar e olhar o céu.
Levantar?