segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O lugar desconhecido





Teve aquele sábado que saiu de casa tarde e voltou ao amanhecer... Estava embriagada, mas queria registrar um pouco das ideias e viagens daquela noite, escreveu palavras soltar na página em branco do word. Só dias depois voltou pra ver, não entendia nem lembrava bem daquilo.
A “ciência da luz”, mas o que quis dizer sobre isso? Momentos pensando e se lembrou que ao entrar no quarto havia uma grande borboleta preta. Como dormir lá com aquele enorme ser com grandes olhos brilhantes olhando-a dormir? Teria que tira-la de lá! Depois de um tempo cambaleando e tentando convencê-la a se retirar percebeu que ela ia em direção da luz...alguns longos minutos descobriu a estratégia de apagar a luz do quarto, acender a do corredor, acender a da sala, apagar a do corredor...com a ajuda no travesseiro para espantá-la. Voltar correndo e fechar as portas...essa é a ciência da luz...onde as borboletas correm em sua direção.
Eu corro na direção do escuro. Havia outras frases e palavras que me parecem sem o menor sentido agora. E já se passaram outras noites e manhãs ainda mais importantes. Regadas a longas conversas. Muito foi escrito sobre solidão, ainda estamos buscando a cura.
A cura encontra-se na noite após noite, no gole após gole, cigarro após cigarro. Na futilidade das emoções e na intensidade das relações, efêmeras e tremulas. Incipientemente, aguarda por uma nova aventura, vazia. A verdade é que não existe conteúdo. Quando existe, é gasoso, é como a fumaça que foge por qualquer fresta. E sempre há frestas.
Assim, sem sentido e numa busca frenética por algo a se sentir. Coloca um pequeno pedaço de papel na boca, sorvido por um liquido amargo, que deveria estar gelado, mas o calor é intenso. A música começa a se tornar mais intensa, o corpo responde a cada nota, a cada rifem. A conversa se torna uma análise profunda sobre o ser social, entrecortada por risos. Partimos sem nenhuma direção, como sentia falta de apenas seguir.
Num outro lugar, numa mesma noite. Papel já dissolvido. Leve choque, noite perdida? O choque é intenso e momentâneo, se não foi capaz de derrubar, apenas eletrifica. Bela noite, que se acaba apenas no fim do dia seguinte. Pessoas que brilham, cantadas furadas, cerveja quente. Beijo na rua. Falta de ar pelos excessos de psicoativos e aditivos.
Diversos mundos que misturam numa miscelânea caótica dentro de um pequeno mundo, mundo paralelo. Cenários diferentes numa fração de vida. Dor, alegria, preocupação, relapso, consumo, liberdade, prisão. Criação conjunta, dos velhos e dos novos. O exterior á esse mundo que complementa as divagações, pois é o mundo para além do paralelo que dá significado a fuga da concretude do sistema.
Superar uma fase, uma dor. Reconstruir e interagir. Não tem graça, nem poesia. É compreender e aceitar a ausência de sentido. É muito e nada. É ser encantadora um dia e invisível no outro. É ter tudo, preso dentro de uma caixinha, esperando a hora certa de usar. Mas não usa.
É ser uma grande borboleta negra, num quarto escuro, se debatendo entre paredes, cortinas e portas. Esperando que alguém acenda a luz e a expulse de lá.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sobre o vazio

Quando se está vazio, teoricamente seria fácil de preencher. Mas não é.  O vazio ocupa todo o espaço, assim não sobra tempo pra ler, pra estudar, pra escrever, pra quase nada. Sobra tempo pra quem procura companhia. O Vazio só abre espaço pro outro, mas para mim, só vazio mesmo. Queria saber fazer poesia, ou pelo menos conseguir ler um livro inteiro. Desligar o computador e desconectar das poucas coisas que restam. Desligar, formatar, recomeçar. Conhecer, se deitar e pedir pra ir embora. Deitar, dormir e sonhar. Noite, música e olhar. Casa, verdade, colchão pra duas. Desabafo, conselho e medo. Vazio quando se acorda. Vontade de preencher com o que há de belo e prazeroso da superficialidade das relações boemias.

Entre cervejas e o amanhã


Ela recebeu um mail. Ficou receosa sobre o que se tratava, depois de tanto tempo as pessoas ainda a surpreendem. E nada sai como se gostaria, quando se espera a calma vem turbulência, quando se quer barulho só se tem o silêncio. Quando se deseja o desconhecido apenas se aproxima o conhecido.

Essa moça, tão sem graça e sem vida. O tempo não foi justo com ela, os anos lhe trouxeram marcas e quilos extras. O tempo lhe levou muitas coisas também. Deixando-a meio assim. Agora passa os dias esperando o dia seguinte, na esperança que algo novo apareça e lhe tire da inércia. Como se engana essa moça. Sonha acordada, se confunde com o que é real ou imaginação. Sonha com a música que se personifica num ser místico. Pensa no ontem e no amanhã, sobrevive ao hoje.

Toma uma cerveja, acende um cigarro. Faz piada das coisas que mais lhe doem, cala sobre o inevitável. Essa moça, que cada dia é e pensa diferente, ora cheia de esperança, ora entregue. Vez triste, outra forte. Essa moça que já teve ideais e planos, que amava e sofria. Agora tenta ser o que não é, pensa o que quer ser e não sabe por onde, e não lhe cabe mais ser o que foi um dia. Teve um tempo que ela desistiu, depois percebeu que tinha tudo pela frente, mas hoje não sabe de mais nada. Espera que outra pessoa resolva tudo, com uma simples noite de um vazio prazeroso, nada mais. Acorda com o gosto amargo de cor cinza na boca.

Pensa que pode viver sozinha, quem sabe descobrir a solidão como boa companhia. Talvez o processo seja complexo; mas por vezes acredita que não pode ser assim. Não foi nem vai ser, mas por hoje, só lhe resta esperar o amanhã. Restam-lhe noites vazias preenchidas com músicas e músicos, com cervejas e cigarros. Que bom que ainda tem a companhia de casa.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Fragmento de uma história.

Que peso que dá quando exageramos a dose! Não apenas do fim de semana que abusei do excesso de álcool e dos gastos excessivos.

A dose extra de falar bobagem pra pessoa errada. De ouvir bobagem da pessoa certa. E tem certas dores que não se curam com o álcool, apenas se intensificam. Mas não adianta falar quando não se faz; deixo a bronca de lado e entro nessa onda dos excessos.


Nos arrependemos levemente; deitadas o dia todo de domingo, tentando superar a dores no braço e a sensação de que os órgãos cozinham. Ainda temos que ter força, porque ainda é domingo e vamos ver algo mais brasileiro depois de três dias de rock internacional.

Coisa leve. Mas ainda pesa os excessos pelo sono que bate e quando olhamos a carteira e vemos que gastamos muito mais do que deveriamos. Mas PORRA! Esse dinheiro sempre some mesmo, nunca sobra. Some nas consultas médicas, no cigarro, no tratamento, nas contas de casa, no posto de gasolina, etc. Que seja por nós!

Apenas mais um fim de semana entre todos aqueles que vivemos, entre todos os dias que dividimos, entre as conversas da madrugada, entre choros e risos. Entre a ânsia e o medo de amanhã. Entre a inútil tentativa de entender que vida é essa.


Teria fim esse mundo, mundo paralelo? Mundo que criamos, que construímos nesses quase 7 anos. Não, nada é normal, tão pouco racional. São sentidos e sensações. É a ausência e a presença, discussão e afago. Dor e alegria. Fora dos padrões de moralidade vigentes nesse caótico mundo social.


Sempre quis escrever algo sobre isso tudo que lateja em minha memória, mas me parece mais difícil que escrever o bendito projeto que protelo dia- a- dia. São tantas vidas e histórias, tanta coisa que não caberia em rabiscos num papel.


É indescritível. E para alguns até incompreensível. Tantas coisas precisariam para ilustrar, tantas trilhas sonoras. Mesa de sinuca, macumba na sala, cadela de rua, seriais killers, Tim Maia, Cordel, festa de republica, batida com banana e café, amigo secreto, mil séries, brigadeiro de colher, Nação, Elis, jargões, truco, Sacis e exus, dançar na chuva, pirofagia, vinho no lago, ciência, Teatro Mágico, etc. etc. Eu, você e todos eles!


Por vezes me arrependo de ter ficado tanto no quarto, de deixar de viver essa história. Mas sempre sabendo que era pra sempre. Nenhum arrependimento pelo que foi vivido, só pelo que foi deixado de lado ás vezes.


A única certeza que essa história me faz ter é quer não terá fim e mesmo que não tenha o amanhã, eu tive vidas em minha vida. E essa vida não é permitida morrer.


Aguardo por mais dinheiro na carteira e o fim daquilo que ansiamos, pra jogarmos mais uma partida de sinuca, dividirmos mais uma garrafa de cerveja e conversarmos até o dia nascer. Quem sabe no lago...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Esses sonhos...

Que sonho ridículo! Seria meu inconsciente consciente? Desejo quase reprimido, premunição?


Deve ter sido por ir dormir tarde conversando bobeiras e escrevendo asneiras nesse blog. E em vez de encontrar a Iriê em sonho e ir para aquela festa, acabei indo parar no submundo da dor e do desejo. Acordei, pensei que teria insônia e seria um dia triste. Mas hoje não! Que sonho absurdamente estranho, mas previsível!

Chega ... a vida é mais que uma história, que um passado. E hoje é mais que o futuro.

Estou recomeçando, recomeçando tudo! Serei outra Juliana. Não! Voltarei a ser a velha Juliana. Porém ainda serei confusa e atrapalhada. Mesmo que alguns critiquem. Pois tem seu charme!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Confusões e risos.



Tudo é sempre tão novo. E antiquado.


Delicinha suíça? É alguma marca de chocolate, ou o que? Me desespero por um minuto, depois eu acho graça, na verdade já tive vergonha alheia antes. Minhas crises são pequenas diante da tristeza do mundo. Mas como elas doem ás vezes. Depois eu somo tudo isso com as crises do meu bem. Sendo assim, desgraça somada a desilusão resulta em felicidade.


Mas a felicidade não existe, não era isso que dizia o velho poeta? Apenas momentos felizes ... e como esses momentos são bons.....e da lágrima faz-se o riso! Gargalhada na madrugada.


Então você me conta que quase costurou a cara da professora, ai se pudesse e não desse cadeia. E chorou no banheiro. Eu dou risada, não poderia fazer diferente. Te conto do meu novo caso secreto; droga, mas era segredo. Você diz pra eu me cuidar.


Ai resolvemos que vamos elaborar um plano maligno... nos livrar desses seres horrendos que insistem em afrontar a beleza de nosso mundo paralelo. Mas te lembro que somos muito atrapalhadas pra isso.


Então resolvemos que vamos nos ver no Natal. Mas também discutimos coisas sérias, como as belezas (ou não) da anatomia humana. Ou parte dela. Mas o relógio ainda faz tic-tac-tic-tac. Temos prazos, temos contas, temos pais e temos filhos. Que bom que temos o mundo todo. E tamanho importa.


Bati um record, 16 horas sentadas em frente ao notbook. Adoro humor político. Que lindo dia eu tive, pena que colocaram alguma coisa na água. Ou foi efeito da radiação cósmica transmitida on-line. Aí, coitado de alguém, que já me acompanha há meses nessas loucuras, e divide parte de suas noites com minhas conversas. Por isso que também agradeço.


Ai invertemos a conversa de ponta cabeça. Seria eu capaz disso? Ele me apoia:” vai em frente, curte a vida”! Acho que vou.....só espero que ninguém se machuque. Então recebo uma mensagem, um convite. Mas esse fim de semana, já? Que bom que vou viajar... Protelo.


Tocou o telefone: protelo. Mas não estou fugindo,estou curtindo todo esse jogo. Mas tenho a sensação que ainda é efeito dos excessos daquele fim de semana. Ou sou bipolar. Como pode tanto e nada?


Coloco Mariana Aydar pra ouvir enquanto tomo banho, percebo que não dá pra ouvir direito, porque o som do not é baixo e o chuveiro é barulhento. Concluo o óbvio, eu estava sendo traída fazia tempo! Ninguém é bom nem mal. Mas omitir é mentir, e mentira diz muito do cárater de alguém.


Saio do banho, me sinto tão revigorada. Passo muito hidratante, mais que o usual. Sambo em frente ao espelho. Coloco aquele vestido indiano que faz tempo que não vestia. Me reconheço no espelho. Dou risada. E concluo que sou livre!


Sendo livre, quem sabe não faço doutorado no Rio? Ou vou pro nordeste ... ainda não sei; que bom é não saber. Concluímos que somos confusas e atrapalhadas, mas concluímos isso a muitos anos atrás. E percebo que deve ser por isso que somos apaixonantes. E sim, estou num momento narcisista, e sei que sou muito bonita e apaixonante ... mas nem fui eu quem disse! Caio na gargalhada.


Falando nisso, o celular toca ... E eu tenho medo de pessoas. Sair de casa essa hora pra isso? Acho que não fui delicada, praticamente desligou na minha cara. Pelo menos não me chamou de nada europeu, nem suíço. Falei cedo de mais, uma longa mensagem... será que sou suiça, sueca, nem sei como se fala isso...então não devo ser!


Mas o que importa é que vou fazer aquela tatuagem do ponto de interrogação ainda esse ano!



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A lista

Essa música me dói especialmente.....

Quantas pessoas passam pela nossa vida, o que deixam? O que levam? Lembranças, memórias......ausência.

Dividimos anos de nossas vidas com algumas pessoas, às vezes achamos que é pra sempre...e as vezes é mesmo. Às vezes mantem-se contato, por alguns anos....... As vezes, simplesmente acaba....E quando acaba, sobram as fotos, os mails não deletados, as lembranças....sobra só o passado.

Sobra tanto espaço, tanto história que podia ser vivida, novos cenários e novas fotos, que nunca vão ser tiradas. Tanta história pra contar.

Tanto sentimentos pra guardar.

Só sobra a vontade de reviver, mas isso não é questão de escolha!

A Lista

Composição: Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Estranhamente bem..


A moça fazia aquele trajeto quase todos os dias, mas nos últimos tempos, acho que pelo último ano todo, estava frequentemente com a ponta do nariz vermelho. Às vezes admirava a paisagem que tinha quase como quintal de casa, olhava o bonito lago, os prédios, mas perguntava por que não conseguia mais ser feliz?

Em segredo, desejava outra vida, outra história. Não conseguia imaginar o futuro, sem perspectiva, ia vivendo a vida que tinha; ao mesmo tempo que seguia vivendo, ia deixando a vida morrer também. Acho que ela tinha uma espécie de psicopatia com a felicidade.

Mas não era isso que queria contar. É que outro dia vi a moça, no mesmo trajeto. Ela não tinha a ponta do nariz vermelho, nem olhos insones. Ela caminha e observava o lago, sentia o calor do sol e não se irritava por isso, sem perceber esboçava um leve sorriso. Ainda não entendo bem o por que, mas acho que ela percebeu que tinha o que queria nos últimos tempos, e a infelicidade deu espaço para a perspectiva.

Ela não mudou muito, apenas mudou a direção do seu olhar, olhou pra dentro, olhou para o outro lado. E quase displicentemente, ficou feliz com o que viu. E o estranho é que esse sentimento, de certa forma, veio também do não sentimento.

Pois é, ela passou um tempo relembrando, vivendo intensamente sua nostalgia. Ai quando viu de perto, depois de um tempo, aquele do ‘qual’ ela achava que sentia muito, viu que, estranhamente, quase nada sentia. Sentiu estranho. Também um estranho o ‘qual’ ela achava próximo. Não eram mais os mesmo. 

Ela observou. E nada viu. Sentiu uma leve tristeza, por que o ‘qual’, não era mais o mesmo, não era o ‘qual’ ela lembrava. Esse que ela via agora, não lhe passava confiança, não lhe passava alegria, não lhe passava força. Ela desconfiava, dos gestos e das frases.

Espero que ela esteja errada, que aquele ‘qual’ ainda guarde algumas das belas qualidades, que o ‘qual’ não se venda nem se renda, que esse qual não construía suas próprias armadilhas.

Espero que ela esteja errada, que foi só a distância que lhe causou tal impressão. Mas ela sentiu isso. Mas se sentiu bem por outro lado, porque se sentiu livre, se sentiu ela mesma. Como á tempos não sentia.

Se viu sozinha e não solitária. Se viu na melhor companhia. E se sentiu, estranhamente bem.

Entre as outras coisas que relembrava, essas sim lhe pareciam familiar. Essas, a distância e os desentendimentos não mudavam, pelo menos não profundamente. Porque ela sabia que mesmo em seu quarto, tinha alguém no quarto ao lado.

E que, quando longe, ainda podiam sentir-se perto. Que mesmo com anos sem se ver, ainda somavam-se as vidas. E que de um desabafo, surge o plano do reencontro. Que de um reencontro, surgem outros ...

E assim, a moça se sente estranhamente bem. Vive ansiosamente por mais vida. E agora, ela acontece.

domingo, 3 de outubro de 2010

Um certo alguém.


Ah se as paredes falassem, seu travesseiro lhe entregasse. Nessas peripécias que só se faz quando ninguém está olhando.
Aliás, ele está. Não tudo, só o que interessa...o olhar de desejo, parte dos toques, o rosto ficando vermelho...o percurso. Mas na hora do gozo final, fecha seus olhos! Não que ele estivesse lá pra fechar, mas só ele pode entender.
Ver o sol nascer juntos, mesmo sozinha. Isso pode até virar poesia, ou uma comédia.....mas ainda estão no drama. Drama que se torna aconchegante.
Duas almas que se perdem no meio do percurso, tentando se achar, se consolar, se distrair. Duas histórias de desamor.  E se trombam, entre tantas conversas e patifarias, entre tantas pessoas e salas diferentes. Então se apresentam, se explicam, se aproximam.....entre desabafos e sacanagem até se desejam.
E noite após noite se encontram, depois que os outros já dormem....por que isso é o que os aproxima, o segredo. Não sei se é bem isso, mas algo os leva a repetirem. Quase incompreensível... e também sem nenhum significado.
“Devagar e sempre” é o que combinaram; aos poucos se descobrem... grandes diferenças e semelhanças engraçadas. Depois de alguma intimidade, descobrem-se os rostos, só depois os nomes...Agora ele já conhece o quarto dela e um de seus pijamas. Ela conhece a vista do quarto dele, sabe a marca de seu óculos e que ele gosta de dormir pelado.
Já sabem onde sentem mais prazer,  a posição favorita....mas se descobrem através da distância, do impossível. Na verdade, é o impossível que atrai e que os libertam para contar os segredos e dividir as fantasias.
O impossível que os fazem passarem mais uma noite juntos... e separados! E se distraindo...
“Os opostos de se distraem...os dispostos se atraem”
(Teatro Mágico)

De Que Serve A Bondade- Bertold Brecht

De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?
Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor: que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.

Leve...

Estava ouvindo aquela música, não se de quem é a composição, mas o Ney interpreta. Ai lembrou-me daquele bilhete que recebi, daquele moço tão querido, querido de mais.
Dizia assim: “Leve a semente vai onde o vento leva. A gente pesa, por mais que invente só vai onde pisa”.
Acho que demorei tanto pra entender, talvez por estar fora de contexto. A outra estrofe completa o poema, “viver ou morrer é o de menos. A vida inteira pode ser qualquer momento. Ser feliz ou não, questão de talento”.
Mas o que realmente importa é o que me remeteu a música, principalmente a lembrança do bilhetinho. Por que essa frase? Quem eu era ou quem achavam que eu era, ou o que aparentava á 5 anos atrás? Ainda não sei se era, queria ser, me vestia assim, ou usurpava a ideia daquela moça de 20 anos.
Mas como ela era?
Leve...Acho que tinha certo frescor que encantava.
Ai lembrei no moço, do pequeno e cuidadoso bilhete (ainda o guardo, junto a outros tesouros). Ele a olhava de um jeito...e era engraçado, pois enquanto ele a olhava, ela se via através dele.
E nossa, como era bonita a moça! Não digo do físico, não que não fosse bela. Mas era jovem, encantada pelo mundo, querendo descobrir a vida e seus segredos. Conhecendo novos ritmos, novas bebidas, novas bocas, novos sabores, novos  livros. Cada momento era a vida inteira.
De tão encantada, a jovem encantava. E era apenas uma semente.
Mas ela se fechou, logo após esse ano. Não se sabe o porquê, mas foi logo após aquele ano. Acho que deixou de ser semente pra virar gente. Coisa besta!
Antes voava, agora pesa. Tem medo de barulho, de andar sozinha, de experimentar o novo, talvez não goste do novo.
Mentira, ela gosta e deseja intensamente o novo, como se fosse o último desejo a se ter, Mas teme. Sente saudade da jovem de 20 anos. Queria deixar o vento levar, mas agora só vai se caminhar.

O Bar fechou...

Em alguma esquina, acho que numa curva, perdi minha vida. Não é tão simples como quando se perde a carteira: dá trabalho, dor de cabeça, mas consegue-se a segunda via!
Mas e a vida? Dá pra pedir a segunda via? Nem precisa ser no Polpa Tempo;  enfrento a fila, madrugo, mas preciso dela de novo!
Teve um tempo, que a vida era complicada, mas se resolvia com um copo de cerveja barata, acompanhado de um bombeirinho com bastante limão. Uma noite de truco, fechávamos o bar e comíamos pastel de carne na padaria louca. Pronto, resolvido, pelo menos naquele dia.
No dia seguinte, pedimos segunda chamada daquela prova tão complicada que nos tirou o sono e já que sem sono e sem conteúdo suficiente pra prova de Política (era sobre Mario Pedrosa, lembro bem), curávamos a insônia novamente naquele bar, o da cerveja barata e do bombeirinho, esse com o nome que remete o lugar, em frente ao cemitério.
Agora penso, a cova que estava sempre ao lado, e da cova reiterava a vida. Mas não uma vida comum, mas gostava daquela vida. E agora? Pouco antes de perder a minha vida em alguma esquina, o bar fechou! Não tenho mais o “Pé na cova”, só a cova!
E agora eu não sei, não foi apenas o bar que fechou, na verdade não ia lá há muito tempo. Mas os companheiros de truco também foram embora. Ou eu fui embora? A verdade é que eu tenho essa irritante mania de me apaixonar, e sem ver deixo as outras paixões de lado e só percebo quando é tarde de mais.
Mania besta essa minha. Não sei bem o porquê, mas lembro de quando começou, devia estar na quarta série, primeira paixonite foi um tranquerinha da escola, foi também o primeiro beijo: nojento! Ai depois foi outro e mais outro, até se tornarem incontáveis...
E incontáveis têm sido as noites mal dormidas, as dores de cabeça e os copos vazios...E o pior é essa saudade do que não existiu, aquela viagem que não fizemos, o vinho que guardei e não bebemos, o filme que dormimos, os filhos que não tivemos e o sexo que dormiu antes  que você voltasse. Saudade do que fomos, mas já não éramos.
E incompreensível é viver o que não se tem, o que não se quer. Até quero, mas me faltam condições. E tomar um porre regado a uma fumaça verde, discutir política, jogar sinuca, fumar um cigarro, beijar na boca. Ir pra casa juntos, fumaça verde, discutir política, beijo do quintal até o corredor do quarto......deitar na cama: dormir de bêbado! Fugir do quarto.....
E o que vem depois? Papo na internet, sexo virtual, esperar amigo, beber cerveja, fumar um, discutir política estudantil.....fugir do quarto, dormir na sala.
Assistir série até apagar os pensamentos, fingir outra vida pra pegar no sono. Distrair-se correndo na esteira, puxando peso, fazendo yoga.  Mas na hora do banho, não tem como, sou eu e eu, e as lágrimas confundem-se com a água quente do chuveiro. Dessa falta quer não se preenche, dessa dor que não passa, da dor do quarto ao lado, dos amigos que não tenho, do livro que não leio, dos amigos que tenho, da vida que perdi.
E o pior é que o bar fechou! O copo tá vazio e não tem mais truco!