quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Estranhamente bem..


A moça fazia aquele trajeto quase todos os dias, mas nos últimos tempos, acho que pelo último ano todo, estava frequentemente com a ponta do nariz vermelho. Às vezes admirava a paisagem que tinha quase como quintal de casa, olhava o bonito lago, os prédios, mas perguntava por que não conseguia mais ser feliz?

Em segredo, desejava outra vida, outra história. Não conseguia imaginar o futuro, sem perspectiva, ia vivendo a vida que tinha; ao mesmo tempo que seguia vivendo, ia deixando a vida morrer também. Acho que ela tinha uma espécie de psicopatia com a felicidade.

Mas não era isso que queria contar. É que outro dia vi a moça, no mesmo trajeto. Ela não tinha a ponta do nariz vermelho, nem olhos insones. Ela caminha e observava o lago, sentia o calor do sol e não se irritava por isso, sem perceber esboçava um leve sorriso. Ainda não entendo bem o por que, mas acho que ela percebeu que tinha o que queria nos últimos tempos, e a infelicidade deu espaço para a perspectiva.

Ela não mudou muito, apenas mudou a direção do seu olhar, olhou pra dentro, olhou para o outro lado. E quase displicentemente, ficou feliz com o que viu. E o estranho é que esse sentimento, de certa forma, veio também do não sentimento.

Pois é, ela passou um tempo relembrando, vivendo intensamente sua nostalgia. Ai quando viu de perto, depois de um tempo, aquele do ‘qual’ ela achava que sentia muito, viu que, estranhamente, quase nada sentia. Sentiu estranho. Também um estranho o ‘qual’ ela achava próximo. Não eram mais os mesmo. 

Ela observou. E nada viu. Sentiu uma leve tristeza, por que o ‘qual’, não era mais o mesmo, não era o ‘qual’ ela lembrava. Esse que ela via agora, não lhe passava confiança, não lhe passava alegria, não lhe passava força. Ela desconfiava, dos gestos e das frases.

Espero que ela esteja errada, que aquele ‘qual’ ainda guarde algumas das belas qualidades, que o ‘qual’ não se venda nem se renda, que esse qual não construía suas próprias armadilhas.

Espero que ela esteja errada, que foi só a distância que lhe causou tal impressão. Mas ela sentiu isso. Mas se sentiu bem por outro lado, porque se sentiu livre, se sentiu ela mesma. Como á tempos não sentia.

Se viu sozinha e não solitária. Se viu na melhor companhia. E se sentiu, estranhamente bem.

Entre as outras coisas que relembrava, essas sim lhe pareciam familiar. Essas, a distância e os desentendimentos não mudavam, pelo menos não profundamente. Porque ela sabia que mesmo em seu quarto, tinha alguém no quarto ao lado.

E que, quando longe, ainda podiam sentir-se perto. Que mesmo com anos sem se ver, ainda somavam-se as vidas. E que de um desabafo, surge o plano do reencontro. Que de um reencontro, surgem outros ...

E assim, a moça se sente estranhamente bem. Vive ansiosamente por mais vida. E agora, ela acontece.

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