domingo, 3 de outubro de 2010

O Bar fechou...

Em alguma esquina, acho que numa curva, perdi minha vida. Não é tão simples como quando se perde a carteira: dá trabalho, dor de cabeça, mas consegue-se a segunda via!
Mas e a vida? Dá pra pedir a segunda via? Nem precisa ser no Polpa Tempo;  enfrento a fila, madrugo, mas preciso dela de novo!
Teve um tempo, que a vida era complicada, mas se resolvia com um copo de cerveja barata, acompanhado de um bombeirinho com bastante limão. Uma noite de truco, fechávamos o bar e comíamos pastel de carne na padaria louca. Pronto, resolvido, pelo menos naquele dia.
No dia seguinte, pedimos segunda chamada daquela prova tão complicada que nos tirou o sono e já que sem sono e sem conteúdo suficiente pra prova de Política (era sobre Mario Pedrosa, lembro bem), curávamos a insônia novamente naquele bar, o da cerveja barata e do bombeirinho, esse com o nome que remete o lugar, em frente ao cemitério.
Agora penso, a cova que estava sempre ao lado, e da cova reiterava a vida. Mas não uma vida comum, mas gostava daquela vida. E agora? Pouco antes de perder a minha vida em alguma esquina, o bar fechou! Não tenho mais o “Pé na cova”, só a cova!
E agora eu não sei, não foi apenas o bar que fechou, na verdade não ia lá há muito tempo. Mas os companheiros de truco também foram embora. Ou eu fui embora? A verdade é que eu tenho essa irritante mania de me apaixonar, e sem ver deixo as outras paixões de lado e só percebo quando é tarde de mais.
Mania besta essa minha. Não sei bem o porquê, mas lembro de quando começou, devia estar na quarta série, primeira paixonite foi um tranquerinha da escola, foi também o primeiro beijo: nojento! Ai depois foi outro e mais outro, até se tornarem incontáveis...
E incontáveis têm sido as noites mal dormidas, as dores de cabeça e os copos vazios...E o pior é essa saudade do que não existiu, aquela viagem que não fizemos, o vinho que guardei e não bebemos, o filme que dormimos, os filhos que não tivemos e o sexo que dormiu antes  que você voltasse. Saudade do que fomos, mas já não éramos.
E incompreensível é viver o que não se tem, o que não se quer. Até quero, mas me faltam condições. E tomar um porre regado a uma fumaça verde, discutir política, jogar sinuca, fumar um cigarro, beijar na boca. Ir pra casa juntos, fumaça verde, discutir política, beijo do quintal até o corredor do quarto......deitar na cama: dormir de bêbado! Fugir do quarto.....
E o que vem depois? Papo na internet, sexo virtual, esperar amigo, beber cerveja, fumar um, discutir política estudantil.....fugir do quarto, dormir na sala.
Assistir série até apagar os pensamentos, fingir outra vida pra pegar no sono. Distrair-se correndo na esteira, puxando peso, fazendo yoga.  Mas na hora do banho, não tem como, sou eu e eu, e as lágrimas confundem-se com a água quente do chuveiro. Dessa falta quer não se preenche, dessa dor que não passa, da dor do quarto ao lado, dos amigos que não tenho, do livro que não leio, dos amigos que tenho, da vida que perdi.
E o pior é que o bar fechou! O copo tá vazio e não tem mais truco!

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